segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

INSIDE

estudo cenotécnico de meyerhold
USINA MERCENÁRIA
PRODUZINDO SEM CESSAR
TROMBA D'AGUA
CARREGANDO GALHOS, CASAS
ATÉ A CHUVA PARAR
DESTROÇOS DE MIM...
SE A USINA DESSE UM TEMPO
E NESTE INSTANTE FOSSE ....SILÊNCIO.
A CHUVA PARASSE
E EM LAGO MANSO TRANSFORMASSE
ESTE É O LUGAR DE FUGA
QUE PROCURO
DENTRO
ENQUANTO NÃO ACHO:
MAQUINADAS
MARTELADAS
ÁGUAS CONTURBADAS
ÁRVORES ARRASTADAS.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

HUIS CLOS para Otávio

Da vida não se sai pela porta:
só pela janela.
Não se sai
bem da vida como não se sai
bem de paixões jogatinas drogas.
E é porque sabemos disso e não
por temer viver depois da morte
em plagas de Dante Goya ou Bosh
(essas, doce príncipe, cá estão)
que tão raramente nos matamos
a tempo: por não considerarmos
as saídas disponíveis dignas
de nós, que em meio a fezes e urina,
sangue e dor nascemos para lendas,
mares, amores, mortes serenas.
Antônio Cícero

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Bárbara



BÁRBARA. Assim como seu nome tinha toda coragem e excesso nas veias. Mulher feita. Na verdade, desfeita e refeita muitas vezes. Não tivera amores dóceis. Bárbara tinha todo tipo de cicatrizes na alma. Daquelas que verdadeiramente doem por anos. Cicatrizes verticais platônicas. Cicatrizes transversais mal resolvidas. Cicatrizes horizontais gigantes, e outras, nem tanto. Trapezista aposentada, passava os dias a costurar figurinos. Bordava lantejoulas, enfeitava com contas, pregava fitas brilhantes, de maneira que os dias de Bárbara eram cercados de cores, brilhos e fucsias. Divergia seu cotidiano da estética da alegria com a sua vida limitada aos tons de cinza.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Irritável!

foto por Bruna Assagra

Daquela Vez, tua ausência cheirou sufoco. Grito Abafado. Olhos semi-abertos, ou quem sabe, grudados. O instante de dor profunda. Tua ausência gerou em meu útero loucura. Em meu corpo febre. E em minha alma tortura. Tua maldita ausência deixou meus dedos tensos, tortos. O estômago embrulhado. Todo som repulsivo. Minha fala ficou áspera. Minhas pernas roxas. As cutículas em carne viva. Abandonada em um instante de tempo e espaço que só tua presença... traria luz e calmaria.

domingo, 30 de novembro de 2008

Daquela Vez..

Foto de Guto Souza Filho
"Quer se trate do corpo de outrem, quer se trate do meu, não tenho outro modo de conhecer o corpo humano, senão vivendo-o, isto é, assumindo por minha conta o drama que me atravessa e fundindo-me com ele"

Merleau-Ponty

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Medéia em Pé




Desculpa Pedro,

Sem pretexto eu minto

Nos teus braços amigáveis

Não quis nem parque, nem recreio.

Muito menos que caissem mais os meus seios.


Desculpa Pedro,

Destrui nosso poema mais bonito

E bem escrito.


Fiz, porque era preciso

, porque você não faria

, pra você poder dormir em paz.


Enquanto eu sofria e

O quão doida foi minha agonia.


Mesmo assim,

Novamente eu faria.

domingo, 23 de novembro de 2008

Um Brinde - Ao ócio e ao ácido!

Neste domingo, sórdido e sonolento, compreendi. Quando mestruei, o dia todo, meu próprio sangue. E vomitei, incessantemente, minha própria bile. A Ironia. Do nosso sexo real. Passar ao platônico. Dolorosamente entendi. Meu orgasmo virou papel barato.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Jacques Prévert de aniversário

Para o último 17, passado, Prévert pra mim.


DÉJEUNER DU MATIN

Il a mis le café
dans la tasse
Il a mis le lait
dans la tasse de café
Il a mis le sucre
dans le café au lait
Avec la petite cuiller
il a tourné
Il a bu le café au lait
et il a reposé la tasse
sans me parler
Il a allumé
une cigarette
Il a fait des ronds
avec la fumée
Il a mis les cendres
dans le cendrier
sans me parler
sans me regarder
Il s’est lévé
Il a mis
son chapeau sur la tête
Il a mis son manteau de pluie
parce qu’il pleuvait
et il est parti
sous la pluie
sans une parole
sans me regarder
et moi j’ai pris
ma tête dans ma main
e j’ai pleuré.


CAFÉ DA MANHÃ

Ele pôs o café
na xícara.
Pôs leite
na xícara de café.
Pôs açúcar
no café com leite.
Mexeu com a colherinha
o seu café.
Bebeu o café
com leite.
Deixou a xícara
em paz,
sem dialogar.
Acendeu
um cigarro.
Fez com a fumaça
rodelinhas no ar.
Pôs as cinzas
no cinzeiro
sem dialogar,
sem me encarar.
Ficou de pé.
Ajeitou
o chapéu na cabeça.
Sob a capa-de-chuva,
porque chovia,
ele foi embora
sem uma palavra,
sem sequer me olhar.
E eu,
o que fiz?
A cabeça entre as mãos,
só fiz chorar.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Enfezada? Eu? Nunca. Eu tomo fibras meu amor.

Foto por Nati Cruz.
Já diziam, budistas, taoístas, comunistas e catequistas: Diálogo é fundamental no relacionamento humano. Entretanto eu odiava quando ele falava comigo olhando para meus seios.

sábado, 1 de novembro de 2008

Inimigo Sacro

by Bruna Assagra
Copyright me, baby
Aunque, yo
Copyright you
Nós duas sabemos
Inside
Pero, en lo más
Profundo Silêncio.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Deleuze re-organize meu corpo!!!!


Um coração que bate no estomâgo. Vomito, fragmentando meu respirar. Pulmão que inspira em meu útero. Até as ancas estalar. Um útero que por sua vez, não sai da cabeça. Menstruando meu pensar.

Pretendo trégua! É difícil, Deleuze, tenha dó de mim. Re-organize, des-complique. Não há de existir um alguém que me queira assim.

sábado, 25 de outubro de 2008

De elogios e sobras

Tudo que escrevi, a internet apagou... Só restou, essa sobra ...

Fotos e memórias de uma Strega muito louca... Cuidado, moço às vezes parece erva, parece hera cuidado com essa gente que gera essa gente que se metamorfoseia metade legível, metade sereia.

Fatorial Solidão 10:00!

Chovia. Depois das vinte e duas horas. Ventava. Sozinha. Aquela porcaria de sombrinha da casa china quebrara. A chuva caia e com o vento forte chicoteava. A face molhada, escorria. Gelava. Passei o relógio das flores. Já enxarcada. Descendo a rua das boates gays, com pressa. Ou medo, sei lá. Sem ter um número pra ligar. Uma tábua de salvação para agarrrar. A calça molhada. Pesava. No chão arrastava. A bolsa, presa ao corpo, como que em assédio. Grudara.
Mantive a sombrinha fechada. E já fudida pela chuva. Caminhava. Talvez quem olhasse não entendesse. Uma mulher ensopada. Carregando nas mãos, uma sombrinha fechada.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

HOMEM sindicalizado.

Ele jura não pertencer ao sindicato, mas sempre age como sócio respeitado.
Usurpa, mente, usa e joga fora sem demoras vai embora, com novo amor.
Já fui tua melhor amiga, tua companheira, tua sina, já fui tudo isso um dia.
O que lhe faz acreditar ser diferente e não pertencer ao sindicato??? Se tudo que faz é o mais puro regulamento nato.

Parado Caralho!

Tá, se os muros pararem de passar e os portões de andar, eu agradeço.
A cabeça demorasse a oscilar, assim, o instante permaneceria.
Não quero clima, não quero tensão. Quero qualquer bosta, que ultrapasse a mera consideração...
A verdade, se ela existir, uma vez que seja, apareça.
Meus pés estão cansados, meus joelhos machucados .............................................................................
........................................................................................... E cada copo que penso fazer a dor passar, dói como alcool em ferida aberta, arde.
Eu não sou legal, não tenho teorias geniais, não proponho nada.
Sempre a Advogada do diabo, a ácida....
Pero, (cafona pra cacete) me sinto melhor do teu lado, me sinto verdade, me sinto mais pura, me sinto mais tua, me sinto mais puta... me sinto melhor, que agora.

E o teu silêncio....... \E o teu silêncio, não machuca, massacra.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Passou rápido por aqui, mas passou...

Indomado, entre rebeldes cachos,
Traz consigo um coração educado, a sonhar.

Delira acordado, louco em divagar,
Dedilha cordas, esperando a paz chegar.

És o vento que bagunça a sala, muda tudo sem cessar.
Deixando as coisas erradas no seu devido lugar.

(Fevereiro 2006)

Ao meu Caro Amigo Mário Carta,

Memórias de um coração (2005)


Preciso urgente de um destruidor de memórias,
Se acaso me fosse possível.
Segue abaixo a lista requisitada:

Começaria apagando
Um restaurante indiano em dia de chuva,
Um beijo assustado, e o olhar azulado.

Continuaria por apagar
A colcha azul com estrelas,
Os sorrisos de orelha a orelha.

Seguiria derretendo as velas,
Desligando o som,
E fechando para sempre a dita janela.

Esqueceria a panqueca azarada,
As notas tocadas,
E as respostas erradas.

As muitas investidas contra o teclado,
O travesseiro em meio à noite roubado,
O eu te amo sussurrado.

As despedidas demoradas,
A saudade encarcerada,
Entre tantas, a madrugada.

E depois de tudo apagado,
Peço somente que as enterre em cova rasa,
Sem cerimônia, nem nada.

Dizendo somente:
“Memórias apagadas.”

domingo, 19 de outubro de 2008

Domingos

Em suma, Meu amor
Sussura
Resmunga
Excomunga
Fodido é como uma puta
Na rua
Sem lua
Como surra
Que bate e machuca
Recusas!!!
Que o amor só te usa.

Ka black

Quando vi kafka
Incrédulo amor à primeira vista
Alienante, pedante, ciumento

Domínio sem domínio
Sub verbo
Acredito

Fiz o que devia
Devir, faria
Kafka, fudeu o meu dia.